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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Wellington procurou instrutor de tiro antes de ataque a escola

Na casa em que viveu nos últimos oito meses, Wellington passou a maior parte do tempo se preparando para o ataque.
Na casa em que viveu nos últimos oito meses, Wellington passou a maior parte do tempo se preparando para o ataque à escola.

Em novembro do ano passado, ele quer aprender a atirar. Wellington faz contato - por computador - com um dos instrutores de tiro mais experientes do Rio de Janeiro e que é credenciado pela Polícia Federal para dar aulas sobre o uso de armas de fogo.

Wilson Saldanha guardou os e-mails. No primeiro contato, Wellington diz que usaria a arma apenas para defesa pessoal, mas que enquanto não tem uma gostaria de ir treinando para saber efetuar disparos com segurança. Na resposta, o instrutor explica que nenhum clube de tiro empresta armas, mas que ele poderia fazer um curso para aprender a atirar.


De: Wellington
Enviada em: quinta-feira, 4 de novembro de 2010 17:52
Para: Wilson Saldanha
Assunto: treinamentos

Gostaria de saber se o stand é apenas para associados ou para os civis também, pois eu sou civil e pretendo adquirir uma arma para defesa pessoal quando eu completar 25 anos, tenho 23 anos, por isso gostaria de enquanto isso ir treinando, para quando eu adquirir a arma eu já saber efetuar disparos e manusear a arma com segurança, se possível, gostaria de receber a tabela de custos e as documentações necessárias, pois não encontrei opções no site oficial, me ajudaria muito, obrigado.

De: Wilson Saldanha
Enviada em: quinta-feira, 4 de novembro de 2010 22:05
Para: Wellington
Assunto: res: treinamentos

Wellington boa noite,
Vc está correto em querer treinar para quando comprar saber usar. Mas infelizmente no Rio de Janeiro você não terá clube para lhe emprestar arma. O estande da vila como outros no Rio são para todos que se associarem, mas no seu caso estaria pagando para não usar. Caso queira pode sim fazer um curso de tiro e depois do curso marcar com instrutor reciclagem, assim poderá aprender a manusear. Isso acho é sua melhor opção. Acredito que queira saber os custos. Curso de tiro hoje com pistola calibre 380 ou revolver 38, custa 550,00. O curso envolve normas de segurança, aula teórica e aula prática com 100 tiros.

No e-mail seguinte, Wellington diz que gostaria de fazer o curso de tiro com um revólver calibre .38. E que deseja pagar à vista.

O instrutor responde que é preciso passar os dados para um cadastro. Mas Wellington se torna arredio. Alega que o computador está com vírus, e diz não achar seguro enviar esses dados pela internet. Prefere apresentar pessoalmente os documentos e termina escrevendo: "segurança em primeiro lugar, tudo bem?"

De: Wellington
Enviada em: quarta-feira, 10 de novembro de 2010 10:17
Para: Wilson Saldanha
Assunto: res: treinamentos

Bom dia, eu gostaria de fazer esse curso de tiro sim, no caso para revólver calibre .38, poderia me enviar o endereço de qual setor eu devo ir e quais documentações deverei apresentar? Não sei se existe parcelamento, mas tenho interesse de efetuar o pagamento a vista. Eu já fui aí por perto por algumas vezes, freqüentava muito o museu aeroespacial que é próximo, mas não sei o nome da rua ao certo nem o setor ou número do local onde se ensina a atirar, quando eu chegar aí eu me informo melhor quanto a data exata do início do curso. Mas no momento o problema para mim é como endereço, agradeço a atenção.


De: Wilson Saldanha
Enviada em: quarta-feira, 10 de novembro de 2010 19:14
Para: Wellington
Assunto: res: treinamentos

Wellington boa tarde estou em Brasília em uma demonstração de armamentos. Volto na sexta, se for bom para vc podemos marcar para domingo, caso seja possível envio um mapa da sua casa até o local, através do google maps. Por favor, confirmando o curso no domingo necessito que me envie nome completo, endereço completo e qual arma vc quer comprar. Pois o laudo eu tenho que levar pronto especificando a arma. Me mande também seus telefones.

De: Wellington
Enviada em: sexta-feira, 12 de novembro de 2010 23:06
Para: Wilson Saldanha
Assunto: res: treinamentos

Acontece que meu computador está com vírus, não acho seguro eu enviar esse tipo de dados pela internet no estado que meu computador está, prefiro apresentar pessoalmente esses documentos, segurança em primeiro lugar, tudo bem?

Em novo e-mail. o instrutor reforça a necessidade dos documentos e diz que não haveria problema em passar os dados por email. E termina: aguardo o envio.

De: Wilson Saldanha
Enviada em: sexta-feira, 12 de novembro de 2010 23:18
Para: Wellington
Assunto: res: treinamentos

Wellington, necessito dos dados, todos os alunos solicito a ficha criminal. Por isso antes de levar alguém para o estande faço esses procedimentos. Enviar cpf, identidade e profissão pelo computador não há nenhum problema. Falsificação não é feita com dados passados por e-mail.
Aguardo o envio.

Wellington não voltou a escrever.

O que mais chamou a atenção do instrutor foi o tipo de arma que escolhido pelo jovem.
“Hoje em dia, o que todo mundo pede é aprender a usar pistola; 38 quase ninguém pede, é muito raro”, comenta. “Eu posso presumir que seja mais fácil de comprar no câmbio negro um 38. Ele não estava comprando pelos métodos legais, fazendo prova, fazendo avaliação psicológica. É muito mais fácil e muito mais barato, uma pistola deve custar no câmbio negro mais de R$ 1 mil e um revólver, uns R$ 200, R$ 300”.

O instrutor diz - pelas imagens que viu - ser pouco provável que Wellington tenha feito treinamento com um profissional. E que o uso do speedloader - o mecanismo que permite recarregar a arma mais rapidamente - pode ter sido aprendido facilmente.

“Municiar um revólver não requer um treinamento mais específico”.

Na mesma época em que procurou o instrutor de tiro, Wellington também estava em busca de uma arma para comprar. Charleston de Lucena, que trabalha como chaveiro, e o vigia Izaías de Souza confessaram ter intermediado a venda de um dos revólveres usados no crime.

Em depoimento gravado à polícia os dois contaram como foi a negociação.

“Uns três ou quatro meses atrás, deu algum problema na porta dele, ele me chamou pra fazer o serviço pra ele. Fiz o serviço pra ele normalmente, ele me pagou normal, ai perguntou se eu sabia quem tinha uma arma pra vender”, conta Charleston.

Charleston entrou em contato com Izaías, que conhecia um terceiro homem que tinha um revólver calibre .32 para vender.

A arma tinha sido roubada há 18 anos do último proprietário legal, que já morreu. Charleston e Izaías entregaram o revólver na casa de Wellington. Ele pagou R$ 260. Os dois homens presos receberam R$ 30 de comissão, cada um.

Para esconder o verdadeiro interesse pela arma, Wellington mentiu.

“Ele falou que queria uma arma porque ele morava ali há pouco tempo, não conhecia ninguém, tinha medo de ficar ali à noite, sem conhecer ninguém. E seria pra segurança dele”, diz Charleston.

Informações de vizinhos e material apreendido na casa de Wellington mostram que ele usava muito a internet, mas quando esteve na casa a polícia descobriu que na rotina do assassino não estava apenas o computador. O jovem também passava muito tempo numa espécie de oficina que mantinha num dos cômodos.

Na oficina, os investigadores encontraram fogos de artifício desmontados. E acreditam que Wellington tenha modificado ali o cinturão em que levou vários speedloaders carregados de munição para a escola.

Ele adaptou pedaços de cano de PVC no cinto para facilitar a retirada dos carregadores. As roupas escolhidas para o dia do ataque também são consideradas indícios de que Wellington preparou cuidadosamente cada detalhe do crime. Além do cinturão estava usando luvas e botas tipo coturno. Carregava uma mochila com uma bomba caseira e textos religiosos que falam de inferno, alma, espírito, morte e ressurreição.

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