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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Falso coronel revela como enganou a polícia do Rio e chegou a secretaria

Para Carlos da Cruz Sampaio Júnior, o Exército era um sonho de  infância. Quando jovem, ele tentou entrar para a academia militar, mas  não passou no teste. “Eu acho que uma série de fatores de natureza  pessoal me levaram a não chegar na academia militar. Tentei. Mas acabou  que ficou esquecido”, conta o homem que se fez passar por coronel e  conseguiu enganar a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Secretaria de  Segurança do Rio de Janeiro.



Entrevistado com exclusividade para o “Fantástico”, Carlos Sampaio  conta como conseguiu chegar a ocupar o cargo de coordenador da  subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional  da Secretaria de  Segurança do Rio  sem nunca ter cursado a academia militar por um único  dia e nem mesmo ter concluído o bacharelado em direito, sua segunda  opção profissional.

Após permanecer no cargo por três meses,  o falso coronel foi  finalmente descoberto pelo secretário José Mariano Beltrame e acabou  sendo preso em outubro de 2010.

O início da falsa carreira

Depois de largar a faculdade de direito, Carlos da Cruz Sampaio Júnior  se tornou funcionário do Zoológico do Rio, na área administrativa. Foi  ali que o homem que iria virar coronel sem nem ser do Exército teve o  primeiro contato profissional com a organização de um esquema de  segurança. “Eu refiz o plano de segurança do zoológico, criei uma série  de barreiras. Eu questionava tanto a eficiência da empresa de segurança,  que quando pedi a exoneração do zoológico por motivos pessoais fui  convidado a participar de empresa de segurança em 98”, conta.

Carlos Sampaio ainda trabalhou com esportes de aventura, limpeza  predial, até conseguir um emprego na Secretaria de Segurança. Era um  trabalho administrativo, como assessor do
subsecretario. Mas ele queria  mais.

Aficionado pelo tema, estudou livros sobre segurança e manuais de  policias de diversos países, inclusive manuais russos, idioma que ele  diz ter aprendido na internet. Depois de três anos, elaborou seu próprio  projeto para melhorar o patrulhamento nas ruas. “Eu desenvolvi um  sistema de controle de indicadores criminais e aplicação operacional  destes indicadores”, diz o falso militar. “Apresentei esse projeto e  absolutamente ninguém se interessou por ele”, lembra.

“Existe um termo pejorativo que se chama ‘PI’, pé inchado, é aquele  cidadão que não é policial civil, nem militar. Constantemente fui  chamado de ‘PI’. De certa forma ofende, claro que ofende”, contou. Com a  troca de governo, ele deixou a secretaria, mas não a idéia de implantar  seu sistema de segurança.

Três anos depois, em 2009, voltou à ativa, agora diretamente na  organização do patrulhamento das ruas. Sob a falsa patente de major,  Sampaio apresentou seu projeto ao 6º BPM (Tijuca), responsável pelo  policiamento em vários bairros da Zona Norte do Rio. Depois de três  meses, ele decidiu “se promover” e trocou major por tenente-coronel.  “Quando você passa a ser tenente coronel e apresenta o seu trabalho,  nossa, todo mundo diz amém e funciona”, brinca.

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A ascensão

Daí em diante, a carreira deslanchou. O  falso coronel implantou seu projeto em outros três batalhões e começou a  ser requisitado para palestras. Ele planejava o policiamento,  redistribuía carros da polícia pelos bairros e treinava agentes. Chegou a  comandar, armado, operações nas ruas.

A popularidade de Sampaio cresceu tanto que ele foi convidado a  trabalhar na Secretaria de Segurança.  O militar que nunca existiu  apresentava um currículo que incluía curso na academia das Agulhas  Negras, comando de um batalhão de fronteira, na Amazônia, e até a guarda  presidencial. Tudo mentira.

Na carteira do Exército, Carlos Sampaio tinha uma foto com farda de  gala. “Não falsifiquei. Criei. É diferente, porque você falsificar é  pegar qualquer documentação e transformar os dados, eu simplesmente  editei a carteira toda no Photoshop. Então, eu criei. Não é uma  falsificação? isso aí depende do seu ponto de vista”, diz.

Depois que Sampaio foi preso, a polícia analisou o documento. Encontrou  dez erros grosseiros, como a data de validade, até 2031. Em um  documento do Exército ela seria indeterminada. Quem assina a carteira é  um capitão, o que não aconteceria na identidade de um coronel. E até o  próprio posto, tenente-coronel está escrito errado, sem hífen. Mesmo com  erros tão básicos ninguém na secretaria percebeu a falsificação.

O falso coronel conta que não teve que apresentar nenhum documento ao  ser contratado. “Eu já tinha uma série de documentações apresentadas na  secretaria de Segurança. Da primeira vez que eu tinha estado lá. Você  tem um cadastro lá. Eu já tinha tudo lá, minha carteira, CPF, PIS, tinha  tudo lá”, explica.

A nomeação para o cargo de coordenador da subsecretaria de Planejamento  e Integração Operacional foi assinada no dia 12 de julho de 2010 pelo  secretário de segurança, José Mariano Beltrame. Instalado no centro do  comando, Sampaio recebia informações dos batalhões, tinha reuniões com  coronéis e fiscalizava operações nas ruas.

Em agosto de 2010, chegou a participar de uma operação para prender  traficantes que tinham invadido um hotel em São Conrado, na Zona Sul do  Rio. Sampaio acompanhou a negociação para que os bandidos se entregassem  e libertassem os reféns. De colete, ele estava dentro da área de  isolamento, na porta do hotel.

A queda

Em nota, a secretaria de Segurança afirma  que Sampaio ficou três meses empregado e que o serviço de inteligência  precisou desse tempo para reunir provas suficientes contra ele. No dia 7  de outubro, Beltrame procurou o Exército e descobriu que Carlos Sampaio  nunca tinha sido militar. Na semana seguinte, o falso coronel foi preso  na sala que ocupava na secretaria. Ele passou dois meses na prisão e  agora responde a processos de falsa identidade e porte ilegal de arma de  uso restrito. Ele pode pegar até seis anos de prisão.

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Sampaio só lamenta que o seu projeto de policiamento não é mais seguido  nos batalhões. E resume como conseguiu passar tanto tempo enganando as  pessoas. “Eu acho que as pessoas acreditam na forma como você se coloca e  o que você coloca. Se você chegar pra mim e falar que é o presidente da  República, souber se colocar como presidente e se portar como tal e  tiver representatividade e ter resultado como tal, eu acredito. Eu podia  me passar por presidente, você não”, brinca.

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